Deixou a turma da faculdade no carro e entrou correndo em casa. ─ Mãe, já tô indo ─ disse ele, tentando parecer sóbrio.
─ Tenha cuidado, filho. Muita atenção quando for descer a Serra. Aquelas curvas são muito perigosas.
─ Não se preocupe, mãe. Vamos sem pressa.
Ela duvidou. Eles iriam ao litoral, festejar o Ano Novo.
De repente, a impaciência buzinou lá fora.
─ Estão me chamando, mãe. Preciso ir. Chegando lá, eu te ligo, tá bom? Tchau.
─ Vá com Deus, meu filho.
Antes de cruzar a porta, ele ainda brincou:
─ O carro tá lotado. Se Deus quiser vir com a gente, vai ter que se ajeitar no bagageiro.
Instantes depois, a mãe escutava o arranque do motor e o cantar dos pneus. Um aperto no peito. Foi para o quarto rezar.
Horas mais tarde, o telefone tocou. Ela segurou o fone com o terço (e o coração) na mão.
Do outro lado da linha, a voz estranha tentava transmitir-lhe a notícia do acidente. O carro do filho havia perdido a direção quando descia a serra. Uma curva muito perigosa, salientou o policial. Dada a velocidade, o veículo ultrapassou a proteção e capotou encosta abaixo, chegando ao fim completamente destroçado. Não houve sobreviventes.
Um detalhe, no entanto, chamava a atenção.
No bagageiro, os bombeiros encontraram duas garrafas de champanhe e cinco taças de fino cristal. Todas intactas.
.
*uma história recontada.
.