terça-feira, 30 de dezembro de 2008

PROGRAMA CONTOS QUE ENCANTAM

O que é?
Adaptações de contos literários para o rádio.

Produção: Rádio Senado Ondas Curtas.

Minicontos: Compaixão ilimitada, Desforra, O Velho Morador, De Volta às Raizes [29/12/08 - W.G.].

Interpretação: Tuka Villa-Lobos.

Ouçam.

APOSTA

Papai Noel não existe, afirmou o irmão mais velho.
– Existe, sim - respondeu, convicto, o caçula.
– Deixa de ser besta. É tudo mentira.
– Não é, não. Papai Noel é de verdade. Eu sei que é.
– Quer apostar que não?
– Quero.
– O quê?
– Meu presente com o seu.
– De que presente você está falando? Já se esqueceu de que o pai está desempregado há um tempão? Este ano nós não vamos ganhar nada.
– Vamos, sim. Eu até já fiz o meu pedido. Papai Noel vai arranjar um emprego bacana pra ele.
– Como você é bobo! Não percebe que...
A frase foi interrompida pelo ranger da porta da sala. O pai havia acabado de chegar.
Correram do quarto e o avistaram na sala, abraçado com a mãe, em pranto.
Eram lágrimas de alegria. Depois de meses de procura, finalmente o marido havia conseguido emprego!
Quando as crianças tomaram conhecimento da boa notícia, o caçula tocou de leve no braço do irmão e falou baixinho:
– A nossa aposta, lembra? Pois então. Deixa pra lá. Não precisa me pagar nada, não.
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sábado, 13 de dezembro de 2008

RE-CAPITU-LANDO

Sou um homem BEM TINHOso.
Quando desconfiei do caso novelESCO - BARbaridade! - não me DOMinei. Dei-lhe um efiCAZ MURRO.
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[w.
G.]+Recanto

DE VOLTA ÀS RAIZES

Três décadas depois, resolveu retornar à sua cidadezinha natal. O desapontamento foi imediato. Nada ali lembrava o lugar de antes.
A começar pela rua de sua antiga casa. O progresso passara por ela. Era agora uma avenida movimentada.
A decepção não parou por aí. No seu endereço, não encontrou mais a residência da família. A casa, bem como a escola em que estudara, foram demolidas e, no local, construíram uma extensa fábrica. Pensou em seus colegas, nos amigos de infância. Chegou mesmo a procurar por eles. Mas em vão. Não encontrou nenhum. Sequer um rosto conhecido. Naquela cidade nada mais parecia familiar.
Cansado da procura, sentou-se num banco da Praça Central, a qual, aliás, também não conservava traços do seu tempo.
Definitivamente, ali não era mais o seu lugar. Melhor, então, partir.
Estava para ir embora, quando, à sua frente, julgou conhecer uma árvore.
Levantou-se e, meio incrédulo, aproximou-se dela.
Reconheceu-a. Era a mesma árvore de sua adolescência. E - surpresa maior - nela encontravam-se duas iniciais talhadas a canivete. Embora imprecisas, teve certeza. Eram suas.
Tocou-as. Sentiu, de repente, uma grande ternura por aquela árvore. Os anos passaram, vencera o progresso, mas ela ainda resistia, retendo no tronco as marcas do passado, mapa de um tempo perdido.
Era como se finalmente encontrasse ali uma amiga. Abraçou-a.
O velho tronco sorveu-lhe as lágrimas.
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sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

SECURA


Torneira aberta, a água jorrando. O homem escova os dentes. De repente, a torneira engasga, tosse algumas gotas e, por fim, um suspiro seco.
Para certificar-se da falta da água, o homem aciona a descarga da privada – por sinal, também seca.
A boca ainda cheia de espuma dentrífica, o homem vai à cozinha (a torneira da pia é alimentada pela água da caixa). Abre-a. E nada.
Tal secura lhe dá uma tremenda sede. Limpando a boca na manga da camisa, apanha um copo e o põe debaixo do filtro de barro. E – triste constatação – nenhuma gota!
A sede se intensifica, converte-se em desespero. Água... Água! Onde encontrar água?!
Sai de casa, constata que faz um sol de lascar. Nas calçadas, árvores esturricadas, desfolhadas. As ruas estão desertas. Não há nenhum sinal de vida. Sequer venta. Tudo estático. E quente, muito quente.
O homem, então, escuta um borbulhar distante. De imediato, vem-lhe à lembrança a imagem redentora: a fonte pública! Água!!
Corre em direção à praça.
Lá, porém, percebe o próprio delírio: a fonte está tão seca quanto à sua garganta.
Tenta chorar, mas em vão. Não há lágrimas.
Seus olhos também são duas fontes que secaram.

[w.G.]+Simplicíssimo

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

CAÇADA NOTURNA


Lanterna à mão, o caçador perseguia as pegadas da pantera.
Atrás dele, na escuridão da selva, dois olhos acesos também o seguiam.
[w.G.]
TerrorZine nº04 + Mincontos de Terror