Acendi uma vela na escuridão da sala. Logo surgiu uma mariposa a voar estonteada ao redor da chama.
Pensei nela, em minha amada: em sua pele branca como a cera; em seus cabelos loiros como a chama.
Pensei em mim. No meu amor incontido, tão cego quanto à mariposa.
Mais que cega: enfeitiçada.
Atraída pelo fogo, deixou-se consumir em seu abraço.
Pensei nela, em minha amada: em sua pele branca como a cera; em seus cabelos loiros como a chama.
Pensei em mim. No meu amor incontido, tão cego quanto à mariposa.
Mais que cega: enfeitiçada.
Atraída pelo fogo, deixou-se consumir em seu abraço.
.
[gorj]
11 comentários:
Belo texto, transmite verdade e singeleza.
será que a sina de todos não é esta?
gosto desta poesia leve, implícita, quase tímida.
Um tanto "lugar comum" relacionar amor e seus riscos, com mariposas ao redor da luz ! ;)
O amor é um lugar-comum.
Homem de meia-idade apaixonado por ninfeta é também um lugar-comum. Nem por isso Lolita (Nabokov) e Presença de Anita (Mário Donato) perdem ponto em qualidade e originalidade. Não importa que os elementos sejam repetidos. O importante é sejam dispostos de forma criativa, original.
Abraços a todos.
Lucy Farpie
[...] O importante é que sejam [...]
L.F.
[...] O importante é que sejam [...]
L.F.
Permita-me esse comentário pode ser apenas um esquecimento, mas, faltou dar os créditos à Farid Ud-Din Attar, poeta persa do século XI e o seu conto:
A história das Mariposas
Certa noite, as mariposas se reuniram, atormentadas pelo desejo de se juntarem à vela. Disseram
“Precisamos mandar alguém à procura de informações sobre o objeto de nossa busca amorosa”.
Em vista disso, uma delas partiu. Chegou a um castelo e, dentro dele, viu a luz de uma vela. Regressou e relatou, segundo a sua compreensão, tudo o que vira. Mas, no entender da sábia mariposa que presidia a reunião, ela não percebera coisa alguma da vela. Nessas condições, outra mariposa seguiu caminho do castelo. Tocou a chama com a ponta das asas, mais o calor a fez recuar. Como o seu relatório não fosse mais satisfatório, a terceira mariposa partiu. Esta, bêbada de amor, atirou-se à chama; empolgou-a com as patas dianteiras e uniu-se alegremente com ela. Abraçou-a toda, e seu corpo ficou vermelho como o fogo. A mariposa sábia, que observava a cena de longe, ao ver que a chama e a mariposa pareciam uma só, disse:
“Ela aprendeu o que desejava saber; mas só ela compreende, e nada mais se pode dizer”.
A Conferência dos Pássaros - Círculo do Livro - Copyrigth da tradução inglesa de 1954.
Luiz Vaz
Prezado Luiz,
É a primeira vez que leio o conto deste poeta persa. Obrigado por nos brindar com ele. Um belo texto, sem dúvida. Fico contente que a mesma ideia tenha ocorrido a mim. Na verdade - devo admitir - essa ideia de mariposa-amor não é lá muito original. Como dito acima, original deve ser a forma de abordá-lo e escrevê-lo. E, se o conto acima tivesse me inspirado, sinceramente eu não teria por que não citá-lo como fonte inspiradora.
Vou comprar o livro citado por você. Quem sabe Farid Ud-Din Attar me inspire outros textos, aos quais poderei sem problema algum creditar a inspiração.
Grato abraço.
W.G.
"[...] abordá-lo e escrevê-lo." Refiro-me ao tema. W.G.
Caro W.G, é um fato comum que tenhamos idéias comuns à respeito de temas como este, a minha primeira intenção foi mesmo a de salvaguardar a origem de algumas histórias pra mim muito queridas, como é esta que publiquei aqui, salvaguardando assim, idéias suas, minhas, de quem quer que seja. Sabemos também que não é tão comum como gostaríamos um respeito pelas fontes, enfim, ciente mesmo que não é o caso da sua publicação ter sido inspirada na pequena história de Farid Attar, fica aqui mais uma postagem que só enriquece o seu trabalho. Um abraço de mais um de seus leitores.
Luiz Vaz
Postar um comentário