domingo, 18 de novembro de 2007

A MARIPOSA

Cansada de andar pelas calçadas, nas ruas escuras, nos becos de medo e ratos, ela só esperava ter alguém para terminar a noite. Algum hotel no centro, casa assobradada do início do século. Para estirar o corpo e garantir o sustento.
O senhor gordo e de bigodes estacionou o carro a poucos metros dela. Aproximou-se esperando a cantada que, na certa, viria. O homem abriu a porta do carro em silencio. Não se falaram ao despirem-se das roupas.
Entregou-se maquinalmente, como profissional que era. Olhando um ponto do teto. Uma mariposa pousada entre as manchas. Mexeu as asas num estremecimento. O homem pensou que fosse prazer e a esmagou com seu peso.
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José Eduardo Degrazia
Contista e poeta. Autor de A Terra Sem Males , O Atleta Recordista , A Orelha do Bugre e OS leões selvagens de Tanganica (amostra acima).

Um comentário:

Angela disse...

terrível e muito bem sentido e escrito!