terça-feira, 29 de setembro de 2009

BALANÇO

Soube dos médicos que lhe restavam apenas alguns meses de vida. Tratou, portanto, de aproveitá-los o máximo que pôde.

No entanto, por mais que se aferrasse ao presente, era o passado que tomava conta de seus sonhos.

Sonhava com sua infância. Com a casa onde nascera e, por muito tempo, fora feliz. Entendeu com isso que, antes de morrer, deveria vê-la pela última vez.

Deste modo, empreendeu sozinho a viagem de carro rumo à cidade natal.

Durante o trajeto, tentava recompor o lar querido em todos os detalhes. Lembrou-se de cada cômodo da casa. Recordou-se também da varanda e, principalmente, do quintal onde havia a velha mangueira. Do galho pendia um pneu amarrado a uma corda. Ah, o pneu. Seu coração balançava nessas doces lembranças.

E balançou até cair. Teve um baque ao chegar.

No endereço, não encontrou mais a antiga residência.

Em seu lugar - triste ironia - haviam construído uma loja de pneus.

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[wgorj] ______________________In: Quem? Contos Selecionados - CBJE.

Um comentário:

Angela disse...

Tudo muda, até os brinquedos... também ficam adultos!
E como as casas da infância ficam pequenas, não é?
Você consegue ser triste sem ser!