segunda-feira, 25 de setembro de 2023

FORMIGAMENTO


Mal apagava a luz e fechava os olhos, começava a senti-las. Uma sensação enervante. Era como se uma carreira de formigas percorresse a sua pele.
Acendia a luz. Não encontrava nenhuma. Procurava no colchão, travesseiro, pelo chão, nada. Nenhum sinal.
Como a sensação persistia, por precaução, passava repelentes pelo corpo. Sem efeito, no entanto. As formiguinhas invisíveis insistiam.
O curioso é que no inverno a sensação simplesmente sumia. Mas assim que o tempo começava a esquentar, tudo voltava: lá vinham as tais formigas imaginárias atrapalhar seu sono. Procurou um dermatologista que, não encontrando nenhuma anormalidade no corpo, lhe indicou um psiquiatra. Esse, por sua vez, receitou uma medicação oportuna, de sabor açucarado. Fez efeito, ou melhor, deu quase certo.
Sim, quase. É que agora as formigas invisíveis só caminham por dentro dele, como se seguissem o rastro do doce remédio.

[gORj]

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