sábado, 30 de dezembro de 2023

MICROCONTOS SORTIDOS



CONVERTIDO
De segunda a sábado, um bruto. Aos domingos, culto.

*

“Você não morre mais...”, disse o amigo quando ele apareceu ali, do “outro lado”.

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O CÚMULO DO ABANDONO
Daquela casa até os fantasmas tinham ido embora.

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A MUDA
Plantei-a no quintal. Quando floresceu, que eloquência de rosas!

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DE COPACABANA
— Enfim, sós! — disse o serial killer à sua no(i)va vítima.

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MENSAGEIRO
Aprendeu a língua dos ventos. Quando cantava, os mensageiros faziam coro.

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DERRETIDAS
Em seu velório, poucos compareceram. Ninguém para chorar. As velas, solidárias, derramavam lágrimas de cera.

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E LA NAVE VA
Do amor, aportou há algum tempo.
Agora, distante, olha seu casamento afundar.

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Por fora, extrovertida, cercada de amigos. Por dentro, solitária.
O médico receitou-lhe um vermífugo.

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MAL ENTENDIDO
– Vá se puder.
Ela entendeu errado. Não foi. Nunca foram o que poderiam ter sido.

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VULTOS
– Filho, estou muito velho. A morte se aproxima. Vejo vultos.
O rapaz retira os óculos do rosto paterno.
– Que vergonha, pai.
E esfregando as lentes na camisa, adverte-o:
– É preciso limpá-las de vez em quando, sabia? Estão imundas.

[gORj]

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