terça-feira, 9 de outubro de 2012

CAMPANHA: VOTE NO GORJ



Estou entre os 10 finalistas do Concurso de Poesia no Twitter, o TOC140, realizado pela Festa  Literária Internacional de Pernambuco. Há uma votação on-line para escolher os 3 primeiros colocados. As escolhas encerram-se dia 11 de outubro. Conto com o seu apoio. Clique abaixo e vote:
http://www.fliporto.net/os-10-mais-do-3o-toc140/

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

OXELFER




Na noite em que fiz 35 anos sonhei que estava diante de um espelho e que esse me devolvia um reflexo envelhecido: algumas rugas, muitos fios grisalhos. Tinha eu 53 anos. Toquei no espelho. A superfície recebeu meu toque com a liquidez de uma poça. Sumiram os dedos, a mão. O braço inteiro. Fui tragado para dentro dentro do espelho. Mal abri os olhos e me vi no mesmo lugar, ou melhor, do outro lado, onde tudo era igual a antes, mas de forma deslocada: o que era esquerdo tornara-se direito, e vice-versa. Olhei novamente para o espelho. A imagem refletida aparentava os meus 35 anos vividos. Tornei a tocar o meu reflexo. A superfície dura, fria. Impenetrável. Notei meus dedos envelhecidos. Como todo o resto em mim, 18 anos mais velho.


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A_MARGARIDA


Reclamaram dela à diretoria do Centro da Melhor Idade.
 A recepcionista é muito azeda, disse uma das idosas. Eta mulherzinha amarga.
Passaram a reclamação à funcionária.
– Amarga, não. Funcional    ela se defendeu.  Esses idosos reclamam demais.
E concluiu, com séria ironia:
– Até porque, com eles, não posso ser doce. A maioria é diabética.


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IMPOTÊNCIA



Pescadores encontraram uma baleia encalhada na praia.
Entristecidos, constataram que nada podia ser feito, haja vista que ela já agonizava entre a vida e a morte.
A barriga inchada. Morta, abriram-lhe o ventre. Descobriram, surpresos, que a baleia estava grávida. A surpresa foi maior quando deram com o filhote ainda vivo.
Diante desse nova descoberta ficaram ainda mais tristes.
Por ele também nada podia ser feito.

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sábado, 7 de julho de 2012

POETA AO ACASO



Invejava os poetas. Nunca conseguiu escrever um único poema que fosse. Apenas microcontos. Escrevia vários. Juntos formaram um livro. Na noite de lançamento, enquanto aguardava os convidados, folheou ao acaso um dos muitos exemplares. Deteve-se no sumário, interessado pelo arranjo dos títulos. Pôs-se a lê-los com entusiasmo. Ao fim da leitura, sentiu-se emocionado. Acabara de ler seu melhor texto. Um belíssimo poema.

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O SALTO


O filho queria saltar de bangee jump. Ela não deixou. Ele insistiu até a desobediência.
Do salto ao chão, a falha. O rapaz esborrachou-se.
Tentaram consolar a mãe:
– Era um bom moço. Ele foi para o Céu.
– Ah, é? – grita a mulher, olhando para o alto. – Pula agora! Pula, seu malcriado!

*  *  *

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MIUDEZAS


BYE BYE, MICKEY
A bexiga soltou-se da mão do menino e subiu a caminho das estrelas.
O sossego do pai também foi para o espaço.


*
GOTA
Dificuldade para andar. Dores na perna direita. Depois, a esquerda. Gota a gota, a dor minava seus passos.

*
REBENTO
No vaso da noite, o domingo germina a próxima semana. Segunda, terça, quarta... Torçamos para que desabroche logo a flor-de-sexta.



* * *
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FELICIDADE


- Tive uma visão do nosso futuro.
- Éramos felizes?
- Muito.
- Então nos casemos.
- De jeito nenhum.
- Mas se vamos ser felizes...
- Sim, seremos. Mas não juntos.

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SEGURO, QUEM?



Na delegacia, três vítimas conversavam:
- De mim roubaram a carteira e o celular. E você?
- O carro. Novinho. E pior: não tinha seguro.
- Nossa! Isso é de chorar. Sinto muito.
Ao lado deles, o outro olhava para o chão.
- E o senhor? O que roubaram para deixá-lo assim tão triste?
- A carteira, o celular, o carro...
- Putz!
- ... e a vida do meu filho.

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REDE SOCIAL


LUZ ARTIFICIAL
O Sol querendo entrar e ela apenas com a janela do Facebook aberta.

*
OFFLINE
Estava preso ao Facebook. Alimentava-se dos comentários. Compartilhava tudo. E, de tanto procurar, encontrou o amor entre seus milhares de amigos. Casaram-se on-line. Um dia, surgiu uma nota obituária em seu perfil. Morte virtual ou real? Ninguém quis saber. O fato é que muitos até curtiram.

* * *

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segunda-feira, 21 de maio de 2012

UNIVERSO CINEMATOGRÁFICO


Ele, um astro. Ela, uma estrela. Filmavam uma cena romântica, quando rolou um beijo. Entraram em órbita.

O profissionalismo foi para o espaço.


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PALANQUE


"Atenção, proprietário do Gol prata: queira, por gentileza, retirar o seu veículo (ou o que sobrou dele) da faixa amarela. A carreta quer terminar de passar."

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ESPÍRITO CARENTE

- Eu só quero ser ouvido.
Deus ouviu sua queixa. Transformou-o em orelha.

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SINAL FECHADO


O menino pede um trocado. O motorista se nega a dar e aciona o vidro automático, muro transparente. No carro, o adesivo: "Não sinta inveja de mim. Foi Deus que me deu". O sinal abre. Amém.

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sábado, 19 de maio de 2012

O AGOURENTO


- Há dias sinto uma dor aqui, no joelho. Parece inchado, não?
- Um pouco. O do meu tio também começou assim.
- Seu tio?
- É. Aquele que toca gaita na Rodoviária.
- O perneta?
- Antes não era.

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DO OUTRO LADO

Encontrava-se sentado numa pedra em cima da montanha mais alta. Dali, sua visão descortinava o vale azul; além, o sol a sumir entre os montes. À luz do poente, o rio serpenteava, reverberando escamas douradas. Contemplação, beleza comovente. Fechou os olhos e respirou fundo: a mente limpa, em paz. A voz que lhe chegou aos ouvidos também era apaziguadora, porém firme. "Estão te esperando. Está na hora de voltar." Sequer teve tempo de se erguer, porque o braço estranho envolveu-lhe o pescoço, apertando-o, apertando... Quando tornou a abrir os olhos, encontrou à beira da cama a mulher e os filhos, abraçados, sorrindo para ele. Do lado oposto, o médico:

- Não disse que ele voltaria logo?


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MICROCONTOS ERÓTICOS

BOMBEIRO

Seu corpo ardia. Ele apagou-lhe o fogo com a língua.


*
LÍNGUA FELINA
Bem de leve, mordeu-lhe as nádegas. Depois, a cintura, as costas, os ombros. E o pescoço. E a orelha.
- Se fosse um tigre, eu te devoraria. Iria te comer todinha. Literalmente.
Ela gemeu. Ele voltou a mordiscá-la... e a lambê-la como um gato.

*
DE LUXO
Despindo-lhe a calcinha, descobriu a tatuagem.
- Não me admira que sua companhia seja tão cara. Você é uma mulher cinco-estrelas.
- Conte direito, meu bem. São apenas três.
- E os seus olhos?

* * *
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CREME DE SANGUE


Sonhou que era baleado durante um assalto. Esqueceu. Como de praxe, foi à padaria comprar o sonho de todo dia. Encontrou o pesadelo.

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segunda-feira, 14 de maio de 2012

SEMENTE


O poeta sentia-se inspirado. Caminhava veloz. Chegar em casa, escrever, escrever... No meio do caminho, estancou o passo. Desânimo: perdera a inspiração. Em casa, deitou e adormeceu. Não longe dali, em outro quarto, alguém não conseguia dormir. Revirava-se na cama, a cabeça cheia de imagens e analogias. O que fazer com tanta inspiração? Levantou-se. Pegou caneta e papel. Escreveu, escreveu. Madrugada adentro, rabiscando, lapidando, riscando versos. A palavra germinando outro poeta.

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MÃE



I.
às vezes enche
mas quando falta
que vazio

II.
Três letras nas quais cabem mil palavras.

III.
Mais vale uma mãe do que um anjo da guarda.
Os anjos não lavam nem passam nossa roupa..

IV.
Às mães os filhos dedicam um dia do ano.
Aos filhos, todo ano, elas (se) dedicam todos os seus dias.

V.
Mãetenha-me em seus braços.



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quarta-feira, 9 de maio de 2012

O VAGÃO

Anoitece. Barulhenta, desliza sobre os trilhos a velha locomotiva, puxando atrás de si inúmeros vagões repletos de coisas ignoradas. O olho do trem, ciclope de ferro, varre a escuridão à sua frente. E a cada passagem descem as cancelas ao som do seu apito escandaloso, como se quisesse alertar os mais surdos ou, quem sabe, desencorajar os suicidas. Segue o trem, o último vagão desaparecendo sob o arco da ponte. Meu olhar desengatado fica sobre os trilhos.

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IDÍLIO NOTURNO


Fazia tanto calor que a Lua desceu ao lago para se banhar.
Assim que a viu, o sapo se apaixonou. Afobado, pulou na água a seu encontro. A superfície agitou-se: a imagem da Lua se desfez.
Dentro do lago, olhos arregalados, o sapo mirou o céu.
Lá estava ela, a fujona.

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CONHECE-TE A TI MESMO

Quis conhecer a si mesmo. Chegou a conclusão de que era uma pessoa muito fútil, vazia. Desde então só quer saber de conhecer outras pessoas. De si mesmo mantém distância. 


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BORBOERETUS


Urinava no bosque quando foi surpreendido pelo inesperado: uma estranha borboleta pousou-lhe no pênis. Achou a cena engraçada. Mas perdeu a graça quando sentiu a dor. Após a picada a borboleta fugiu. A dor se foi, mas veio a coceira. Ele passou uma pomada e foi dormir. Pela manhã, durante a urina matinal, surpreendeu-se com duas asas brotadas do seu pênis. Estaria sonhando? Uma nova dor, agora mais violenta, mostrou-lhe que não. O pênis ereto, com suas asas coloridas, havia se desmembrado do corpo, e, fugindo pela janela do banheiro, ganhou as ruas da cidade, para logo se aninhar entre as pernas de uma passante qualquer.


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ANOTAÇÕES DE UM POETA À TOA


I

Forço a poesia para que ela aconteça. Derramo o pote das palavras e encho de fragrâncias e temperos estas páginas inodoras, insossas.


II
Abro a caneta. Deixo verter as palavras até que escorram pelas sarjetas deste caderno. A poesia há de surgir como um barquinho de papel.

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domingo, 6 de maio de 2012

DELETADO



Um anjo travesso, da linhagem daquele que foi expulso, entrou no sistema divino, acessou a pasta DEUS e apagou o programa nomeado UNIVERSO. Viu tudo sumir,  incluindo ele.

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ENTRAVES




Trazia tatuado nas coxas o nome daqueles que a fizeram feliz. Na coxa direita, cinco nomes; na trave esquerda, idem. Um time quase completo. Esperava pelo 11º homem. Aquele que, como um goleiro, a agarraria com as duas mãos, e a levaria para longe, bem longe dali.

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PREDILETA

Estavam a sós, em campo aberto, à sombra de uma árvore.
- Você é a criatura que mais adoro nesta terra - ele disse.
Ela recuou:
- Mais que sua companheira? - perguntou. - Seus filhos?
- Mais. Sem você eu não vivo.
- E por que eu? Se há tantas outras...
- Você é minha predileta.
- Então, devo me entregar, sem resistência.
- Será melhor assim.
- Que seja - ela concluiu. - Venha!

A fêmea e os filhotes se aproximaram para participar do banquete.
Carne de gazela é a predileta dos leões.




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quinta-feira, 19 de abril de 2012

CANTEIROS


O poeta andava sem inspiração. Há tempos não escrevia um poema que prestasse. Caminhava à procura da poesia, quando encontrou um jardineiro que transportava uma roseira de um canteiro para outro.
- O que há com ela?
O jardineiro, terminando de replantar a roseira, respondeu:
- Parou de dar flores.
- E você acredita que trocando de lugar ela volte a florescer?
- Sinceramente, não sei. Mas, se não tentar, como saberei?
No mesmo dia, o poeta fez a mala e partiu em busca de outro canteiro.
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GESTO DELICADO


A cabeça fervia, testa suada. Dar cabo da vida, ele pensava. Um vento fresco soprava. Tocou-lhe como um gesto de carinho. E a vida foi perdoada.

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ALGUMAS LÁGRIMAS PÓSTUMAS


REPRESADO

Ninguém nunca o via chorar. Sustentava a seco a fama de durão. Lágrimas nem mesmo quando a esposa faleceu. Acompanhou velório e sepultamento sem verter uma gota de sua dor.
Foi o último a deixar o cemitério.
Mal cruzou os portões, começou a chover.
Chuva abençoada, que deslizava veloz pelo rosto desconsolado.
De carona, o pranto.

* * *

DERRETIDAS
Em seu velório, poucos compareceram. Ninguém para chorar. As velas, solidárias, derramavam lágrimas de cera.


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PEQUENOS POEMAS


PARA EMOLDURAR PAISAGENS

VERMELHO-SANGUE
Com os pulsos cortados, a tarde se deita no horizonte. Faz-se noite.
*
PANTERA
O gado pasta. Aves regressam. Silhuetas: árvores, montanhas. A noite se aproxima e devora tudo: montanhas, árvores, aves, gado. Saciada, ela se espreguiça. Bela, serena, a pele tatuada de estrelas.
*
ORAÇÃO
Anoitece na várzea. Os ruídos dos sapos, rãs e grilos formam uma massa sonora que purifica o silêncio. Hora da natu-reza. Amém.
*
ESTAÇÃO
Algumas aves já começam a migrar. De carona nas asas, levam o Verão. Da terra, acenam as árvores galhos desnudos. No solo, folhas de saudade.
*
OUTONO-INVERNO
O verão morreu. Seu cadáver esfria.
*
BORBOLETAS PARDAS
Outono sopra o vento. Folhas mortas adejam um voo emprestado.
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OUTONO-INVERNO II
As árvores choram folhas. Nem o sopro do vento as consola pela falta que sentem dos passarinhos.
*
Da amizade entre borboletas e flores nasce a primavera.
* * *

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CÓPIA FIEL


Pensou em alguns políticos. Imaginou-os juntos, posando para uma fotografia. Click. "Cambada de merda", pensou, tendo em mente a imagem registrada. Sentiu vontade de expulsá-la de si e correu para imprimi-la. Entrou num lugar reservado, sentou e imprimiu. Mas não quis ver o resultado. Deu descarga de olhos fechados.

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quarta-feira, 21 de março de 2012

PERGUNTAS

Sonhei com Jesus. Ele caminhava apressado.
- Mestre, espere. Aonde vai com tanta pressa?
Não me ouviu. Continuou, apertando o passo. "Até parece que vai tirar o pai da forca", pensei. Foi aí que Jesus parou. Voltou-se:
- Judas não é meu pai - respondeu-me, sério.
Teria lido meu pensamento? Fiz outra pergunta:
- Posso ir contigo?
- Não. Você faz muitas perguntas.
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COM TATO

Estavam a sós. Aos pés da moça, o cão dormitava. O rapaz aproximou-se mais. Confidenciou: "Se digo que foi amor à primeira vista, você acredita?". Ela tateou-lhe o rosto, demorando mais na boca; seus dedos pareciam redesenhar o sorriso apaixonado. Disse, por fim: "O meu foi ao primeiro tato".
A essa resposta, restaram-lhe o beijo, instante em que todos somos cegos.

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ENCICLOPÉDIAS


Naquele galpão, acumulavam-se enciclopédias, milhares delas.
De onde vinham?
- A maioria vem de doações, respondeu o velho bibliotecário, dono do galpão. - Depois que inventaram a internet, ou melhor, o tal do Google, ninguém mais se interessa por coleções enciclopédicas.
Uma buzina chamou lá fora. Saímos. Em frente ao galpão, uma camionete estacionava; na caçamba, mais enciclopédias.
O velho ainda comentou:
Em casa, esses grossos volumes ocupam espaço, juntam poeira. Jogar no lixo, para alguns, traria remorso. Então, trazem para cá.
O motorista entregou-lhe a caixa com as enciclopédias, e partiu.
Também fui embora.
Passaram-se meses. Soube que aquele galpão acabou-se no fogo; o velho consumindo-se junto com as suas queridas e sábias companheiras.
Fui lá e só vi ruína. Um monte de cinzas e fumaça. Nem tudo, porém, se perdera: algumas enciclopédias conseguiram se salvar. Um caminhão de lixo as recolhia.

A PESCA

O Messias andava à procura de discípulos. Aproximou-se de um pescador:
— Largue essa rede e venha comigo. Eu o ensinarei a pescar homens.

— Homens?
— Almas. Pescaremos almas para o Reino de Deus.
— Não, obrigado. Prefiro continuar na minha pesca. Nessa, quem morre pela boca é o peixe. Na sua, é o pescador.
Não houve insistência. O Messias partiu em busca de outros pescadores.
A vida seguiu seu curso. Continuava o pescador lidando com o mar, quando lhe trouxeram a notícia de que aquele homem havia sido crucificado.
Quis saber por quê.
— Condenaram-no pelo que ele pregava — disseram.
E o pescador, enigmático:
— O peixe morre pela boca.
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SOLDA


Queimou a vista de tanto expô-la às faíscas do maçarico. Cego, tropeçava, derrubava coisas. Logo topou com um buraco: o tombo. Dor e inchaço na perna. Depois, no ambulatório, a chapa. "O osso trincou", disse a médica. E ele, gemendo ironia: "Não tem como soldar?".

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A CURVA


Várias vezes o carro capota. Da lataria amassada, o motorista consegue sair e subir até a rodovia. Atrás, ouve-se a explosão; o veículo se consumindo em chamas. No acostamento, enquanto ele olha a cena, surge um cão, que se aproxima abanando o rabo. O adulto reconhece seu cachorro de infância. Ambos mortos num acidente de carro.

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