quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O OBJETO


Apanharam-no em flagrante (atrás de uma árvore, com aquilo nas mãos).
Conduziram-no à diretoria.
– Você já deve saber – intimou o diretor, indicando o objeto apreendido. O uso disto, aqui dentro, é terminantemente proibido.
Cabeça erguida, olhar desafiador:
– Sei, sim – o aluno afirmou.
Mais uma vez o diretor pôde confirmar os efeitos subversivos que aquilo produzia na mente dos jovens. Definitivamente fizeram bem em banir aquele objeto para longe da escola.
Voltou à carga:
– Sabe também que por conta disto até podemos expulsá-lo?
O aluno apenas balançou a cabeça.
– E então, rapaz?! Não teme que isso aconteça?
Sem desviar os olhos, o jovem deu de ombros:
– Se tiver que ser assim...
– Pois bem, finalizou o diretor. Caso queira voltar à classe para terminar de assistir a aula, sinta-se à vontade.
E acrescentou:
– Mas aproveite-a bem, pois será a última que terá nesta escola.
– Não quero ficar, rebateu o aluno. Prefiro ir agora.
“Que petulância!”, ponderou o diretor com as mãos crispadas no objeto proibido. “Não há como negar. De fato isto exerce péssima influência em nossa juventude.”
*
O rapaz já estava de saída, quando escutou o diretor chamar.
– Não parta sem levar isto daqui.
O aluno apanhou o objeto no ar.
Longe da escola poderia usufruir daquilo como bem entendesse.
Não demorou a encontrar a sombra de uma árvore.
A sós com seu livro, retomou a leitura interrompida.

{gORj}

4 comentários:

Tiago Moralles disse...

Gostei.
Boas recordações de Fahrenheit 451.
Já viu?
Microabraços rapaz.

Anônimo disse...

Tiago,

Confesso que não li o livro tampouco vi o filme. Mas já havia ouvido falar muito bem dos dois. E claro, já tinha conhecimento do enredo - da ideia central: a proibição dos livros. Acho uma ótima alegoria, para não dizer estratégia, com a qual se possa estimular os jovens à leitura. Eles, que se sentem atraídos pelo que é proibido.

Grato pela visita.


Macroabraço.
W.G.

Angela disse...

Wilson, 'escutando a conversa de vizinhos', só posso te aconselhar a ler meu escritor preferido- Ray Bradbury -
Seu conto parece estar no prefácio de Fahrenheit 451- Veja! Leia!

Lidi disse...

Também me lembrei de Fahrenheit 451. Abraço, Gorj.