sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
FLAGRANTES DO REVEILLON
domingo, 19 de dezembro de 2010
AMORA NEGRA*
Pedro e João mataram aula para irem pescar às margens do Paraíba.
A caminho de onde costumavam ficar, os dois notaram uma amoreira cujos galhos se projetavam sobre as águas do rio. A bem da verdade, nem todos os galhos estavam suspensos naquela direção. Daqueles que suas mãos podiam alcançar em solo firme, os meninos colheram deliciosas amoras.
Deliciosas, porém pequenas. Havia, sim, uma bem grande, mas esta amora pendia na ponta de um dos galhos estendidos sobre a água.
Tal detalhe não amedrontou João, que trepou na pequena amoreira e esgueirou-se pelos trêmulos galhos ao encontro do cobiçado fruto.
Seus dedos estavam para alcançá-lo, quando, de repente, o galho partiu, fazendo com que ele caísse no rio.
Pedro, que também não sabia nadar, agiu rápido e estendeu a vara de pescar ao alcance do companheiro. Os dedos de João logo alcançaram a ponta do caniço.
Cabia agora puxá-lo, tirá-lo da água.
Pedro tentava, mas a correnteza era forte, a margem escorregadia.
Não deu outra. Os pés resvalaram no barro e o menino deslizou para dentro do rio. Gritos abafados pela água. Ninguém para socorrê-los.
Alheia a tudo, pendia do galho partido a suculenta amora. Quase intocável, não fossem os dedos do Sol.
* miniconto revisto
. * .
gORj
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
SINAL POSITIVO
Dito isso, deu-me as costas e, antes de partir, ainda repetiu: “Virá, sim. Desta vez não falha”. Sua mão mantinha o polegar levantado. “Um belo presente. Aguarde.”
Dias depois já não me lembrava mais desse episódio. Estávamos todos em casa. O Natal finalmente chegara.
Na noite festiva, minha mulher entregou-me um embrulho bonito, entrelaçado por fita vermelha. “Seu presente”, sussurrou-me ao ouvido.
Desembrulhei. Dentro havia apenas uma folha azulada. Trazia o resultado de um exame. De imediato veio-me à lembrança o sinal que o bêbado fizera em nosso encontro.
POSITIVO.
Lágrimas de alegria ressuscitaram minha crença em Papai Noel.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
NOTAS MÍNIMAS
Coletânea de microcontos da jornalista Katherine Funke, catarinense radicada na Bahia. São narrativas curtas que abrangem momentos sublimes de uma vasta gama de situações humanas, a maioria delas em circunstâncias bastante comuns, como uma caminhada pela rua, a fila de um banco ou a espera em um aeroporto. Os textos foram originalmente publicados em blog.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
PUBLICAÇÕES DE FIM DE ANO
Participação com alguns poemas
* * *

pela FLIPORTO Digital.
Texto meu entre os 100 selecionados.
Adquira o livro aqui.
* * *

- antologia lançada em novembro na Feira do Livro -
Porto de Alegre, RS.
Participação: 10empregados (microcontos).
* * *

Participação c/ 3 poemas no modelo peq.
Faça sua compra.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A CHAVE DO REINO
Seguiu viagem. O chaveiro teve a sua vez.
INFLÁVEL

Acabara de sofrer uma transmutação. Sua pele mudara de textura. Parecia borracha.
No lugar de músculos, apenas ar.
Unhas afiadas. O corpo inflado não resiste.
Dentro dele (ela sente na própria pele) havia mais do que ar.
No quarto, encolhida num canto, encontraram-na em estado de choque.
Das paredes e espelhos escorria um líquido viscoso, nojento.
O corpo da prostituta também era todo esperma.
SEQUESTRO APRESSADO
Antes, porém, um dos homens deixara o seguinte bilhete: “Aguardem contato. Não procurem à polícia”.
Qualquer vacilo o garoto pagaria com a vida.
Apesar do valor exorbitante, os pais do refém comprometeram-se em pagá-los a tempo.
Os pais concordaram.
Os bandidos pareciam mais impacientes. Perguntavam o quanto de dinheiro o casal já tinha em mãos.
A resposta não agradou. Queriam o dobro.
O pai argumentou que precisaria de mais uns três dias para apurar a quantia exigida; o gerente a quem pedira empréstimo mostrava-se relutante, burocrático demais; aguardava do banco um parecer que...
Quê?
Não pôde concluir a justificativa. O bandido desligara o telefone.
Combinaram então a entrega do dinheiro num ponto afastado da cidade. Asseguraram que o moleque seria solto ainda naquela noite, num parquinho abandonado.
O sequestrador ditou o endereço.
– Não poderiam devolvê-lo amanhã?
Espanto do outro lado da linha:
– O que disse?!
– Amanhã. É que hoje...
A voz criminosa carregou-se de indignação:
– O senhor está pensando o quê? Que isto é alguma piada de sogra?
Mais que indignação, desespero. O sequestrador berrava:
– Amanhã?! De jeito nenhum! Com este pestinha, não ficamos mais. Nem mais um dia, entendeu? Nem mais um dia!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Minificção do Brasil - Márcio Almeida
Entre os autores analisados estão Elias José e os escritores pioneiros dos “Cadernos 20”, de Guaxupé – Francisca Vilas Boas, Marco Antonio S. de Oliveira e Sebastião Resende; Adrino Aragão, Uilcon Pereira, Pedro Maciel, Jaime Prado Gouvêa, Duílio Gomes, Carlos Herculano Lopes, Adriana Versiani, Adalgisa Botelho de Mendonça, Marcelo Spalding, Marcelino Freire, PJ Ribeiro, Marcelo Freitas, Oskar Kellner Neto, Fernando Bonassi, Silvana Guimarães, Lia Beltrão, Nina Rizzi, Romina Conti, Tatiana Alves, Valéria Tarelho, Márcia Maia, Mariza Lourenço, Cida Pedrosa, Virna Teixeira, Gertrude Patrícia Fahne. O livro inclui o ensaio lítero-fotográfico intitulado “Gregorovius & Lucana”, de Adriana Versiani e Dioli, capa e diagramação de Oskar Kellner Neto.
O livro não será vendido em livrarias ou bancas. Os interessados deverão fazer pedido pelo endereço virtual.
Contato com o autor.
OUTRAS GORJETAS
1. NANOCONTO DE SEXTA-FEIRA
Na ilha deserta, Robson recluso é.
*
2. STONEHENGE
Um grupo de jovens turistas.
Foram lá fumar umas pedras...
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3. CARO DENTISTA
Do consultório, saiu com a carteira banguela.
Doía-lhe, agora, o bolso.
*
4. DIÁLOGO SOB UM VIADUTO
– Que papelão, hein, filha?!
– Desculpa, mãe. Foi o único que encontrei no lixo.
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5. DEDO NA GOELA
Tomou veneno. Arrependeu-se e quis pô-lo para fora.
Tarde demais. Só vomitou a própria vida.
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6. A REMISSÃO DOS PECADOS SEGUNDO TORQUEMADA
Entregue à Igreja, no terceiro dia subiu ao céu. Volátil fumaça.
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7. FANTASIAS
Seguia o trio elétrico quando topou com uma fada.
“Qual a sua fantasia?”
Realizaram-na num motel.
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8. O ALVO
Cercado de muros, sentia-se protegido. Jamais o acertariam.
Enganava-se. Do alto de uma nuvem, o Cupido o mantinha na mira.
*
9. UM SÁBADO DE ALELUIA POSSÍVEL
Carregando o Judas, a molecada para diante da “biqueira”.
Gritam: “Queremos PEDRA! Queremos PEDRA!”.
E o traficante manda bala.
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10. UM ASSENTO CAIU
“Hitler é um louco”, proclamou o papa. E ordenou: “Repudiem o nazismo!”.
Estrondo. Os bispos conclamaram de pé: “Amem!”.
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11. PUTA IDEIA
Voltas e mais voltas ao redor do quarteirão da mente à caça de alguma ideia disponível. Nenhuma quis pegar carona no meu pensamento.
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12. DESTERRO
Da janela do avião via a cidade onde crescera. Pousou a vista nos pés: a sola suja de terra dava-lhe a impressão de ter sido arrancado pela raiz.
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13. A MORTE NADA AO LADO
No bote, o náufrago mira o céu: nuvens, gaivotas, o azul. Teme olhar para o lado e rever a enorme barbatana que há horas o acompanha.
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14. ATIVISTA
Abriram a barriga do tubarão branco. No convés, tripas, plástico... e o que era aquilo? Uma carteira de couro. Dentro, a carteirinha do Greenpeace.
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15. CARNAVAL NO TWITTER
Na sexta, cadastrou-se com o perfil @blocodosfoliões. Na segunda, contava com 64 seguidores. Na terça,105. Na quarta: 4, 2... Nenhum.
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gORj
IDÍLIO NOTURNO
REPORTAGEM ECOLÓGICA
RELAÇÕES POR UM FIO
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
HIPÓCRITA
Em casa, marido fiel; no quarto da amante, um devasso. Em público, funcionário honesto; às escondidas, um corrupto. Para sociedade, um homem direito; para si mesmo, o rei da malandragem.
A todos se mostrava afeito à verdade; a ninguém confessava suas mentiras.
Mentia principalmente para o filho.
Livro aberto. O menino estuda, enquanto o pai lê o jornal em sua poltrona. De repente, o filho dispara a pergunta:
– Pai, o que é hipocrisia?
O homem fecha o jornal. A resposta sai pronta:
– Hipocrisia, meu filho, é quando a pessoa finge ser algo que não é.
O menino continua:
– Conhece alguém assim, pai?
– Ô se conheço! Tem muita gente hipócrita por aí.
E pondera:
– Nem todos são como o seu pai... Verdadeiro.
O garoto coça a cabeça. A curiosidade insatisfeita:
– Pai, dá para saber quando uma pessoa é hipócrita?
– Dá, sim. Mas não é fácil. Eu mesmo demorei muito para aprender.
– Então me ensina, pai. Quero saber quem é hipócrita.
– No momento certo, filho. Ainda é cedo para você aprender essas coisas. Volte a estudar. E fique tranquilo. Quando você crescer, eu estarei aqui, pronto para lhe ensinar tudo o que aprendi.
DEMASIADO
Nunca lera nenhum livro de filosofia.
E foi assim, sem nenhuma preparação intelectual, que mergulhou de cabeça na obra do grande filósofo alemão, autor de livros polêmicos como O Anticristo, Para além do bem e do mal, Assim falava Zaratustra, entre outros.
Não tardaram as complicações.
A falta de aquecimento filosófico, agravada pelo esforço repetitivo com o ato de pensar, acabou lesionando-lhe o cérebro. Contraiu uma entendinietzsche. Enlouqueceu.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
O REPICAR DOS NOVOS TEMPOS
Substituíram o carrilhão da Matriz por sofisticado sistema de alto-falantes, pelos quais se ouvia, todos os dias às dezoito horas, a gravação fonográfica do antiquíssimo badalar dos sinos.
– A que ponto chegamos?, dizia uma devota à sua companheira de reza. Até a igreja se rendeu às facilidades dos novos tempos.
Às facilidades e, fatalmente, à sua vulnerabilidade.
Pois num domingo de sol, alguns moleques entraram na igreja e deram um jeito de trocar o cd “sineiro” por outro surrupiado ao camelô.
Toda a comunidade ficou escandalizada quando, às seis da tarde, reboaram por sobre a praça aquelas batidas fortes que nada tinham a ver com o nobre reboar do bronze.
Durante um bom tempo ouviu-se da torre da igreja as rimas indecentes e as batidas de funk vomitadas impunemente pelos modernos alto-falantes, porta-vozes dos novos tempos.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
MÃE SOLTEIRA
Pôs a filha para fora de casa.
– Grávida? Aqui não!
A justificativa:
– Sempre avisei que nesta casa não teria lugar para outra mãe solteira.
A adolescente sumiu por uns dias. Pouco depois, a mãe a recebeu de volta, futuro e pulsos cortados.
Na barriga da filha, a neta embrionária, ambas veladas ao centro da sala.
Comentavam o suicídio parentes e vizinhos, quando a mãe da adolescente surgiu do quarto com um bebê no colo.
– Minha netinha.
Trazia um sorriso apalermado, os olhos boiando em lágrimas.
– Minha netinha – repetia, enquanto embalava nos braços a boneca que jamais dera à filha.
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gORj
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
ARBEIT MACHT FREI

– Não pare! – gritou o soldado a um dos prisioneiros que em fila cruzavam a inscrição sobre o portão de ferro.
O rapaz não escutou. O nazista aproximou-se e lhe deu um empurrão.
– Vamos, seu palerma. Prossiga!
O judeu olhou para a suástica. Por vaga semelhança, lembrou-se da cruz, símbolo maior dos cristãos. A essa lembrança, ocorreram-lhe as palavras do profeta Jesus: “A verdade liberta”.
A verdade. O que era a verdade?, perguntara Pilatos.
Para eles, condenados ao campo de concentração, a verdade era uma só: nada os libertariam de Auschwitz.
Nada, exceto a morte.
CANÁRIO QUINTANA
Tomado de ciúmes, o passarinho despeitado bateu asas para longe dali. “Cambada de passarão!”, resmungava ao vento. “Tinham de atravancar o meu caminho!”
VIAGENS
Chegando à adolescência, conheceu uma companhia de teatro, por meio da qual sonhava se consagrar ASTRO de cinema.
Abandonou o palco. Quisera BRILHAR, mas só lhe davam papeis apagados.
Na música haveria de ter mais êxito. Tantos alcançavam um sucesso METEÓRICO, por que não ele?
Por muitos anos investiu no sonho de se transformar em ESTRELA do rock.
Infelizmente, a carreira de pop STAR não DECOLOU.
Cansado de viver no mundo da LUA, resolveu firmar os pés no chão e tirar sua vida do BURACO NEGRO em que se metera.
Fase NEBULOSA. Encarou cada trabalho, cada RABO-DE-FOGUETE.
Ao fim das contas, estabilizou-se em um emprego decente.
Nada de EXORBITANTE. Hoje é motorista da viação COMETA.
IMPUNE

A lei da favela impunha-se com dureza: ladrão que rouba a comunidade leva tiro na mão. Ao reincidente, punição maior. A bala cuspida na testa.
Mas toda vez que o tráfico trocava balas com a polícia, os moradores da comunidade sentiam-se roubados em bens muito mais valiosos: a liberdade de ir e vir, a paz e, não raro, a própria vida.
Esses roubos ninguém punia.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
O Lince: vitrine literária do Vale

edição setembro/outubro
Grafias:
Minicontos assassinos
Resenha de Fernando Scarpel
e muito mais.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
AQUELA DOR NO PEITO
domingo, 3 de outubro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
CUMPLICIDADE
Nas vezes em que encontrava a supravizinha no elevador, sempre lhe endereçava um olhar malicioso, percorrendo-lhe o corpo sinuoso de cima a baixo. Nunca lhe dirigia a palavra. Apenas o sorriso cúmplice.
A moça sorria de volta, constrangida. Depois, à vontade com o marido, dizia-lhe:
– Topei com ele de novo.
– Ele? Ele, quem?
– O viúvo do prédio.
– Ah. Aquele velhinho?
– Esse mesmo, o tarado.
– Culpa sua, meu amor. Quem mandou ser assim tão excitante?
Ela sorriu.
– Vem cá, vem... O tarado agora sou eu.
A cama voltou a gemer. Para deleite do 51.
A VERDADE DO SER
Já era tempo de acabar com a farsa. De modo que declamou em praça pública seu melhor poema, e depois, em casa, assumiu-se tal como era. Por fim, foi ao encontro da namorada, a quem contou toda a verdade.
Ela, no entanto, não se importou. Sempre sonhara em ter um namorado poeta.
DIREITO
ESCROTO

Ao vê-lo chegar da rua, o garoto interpelou:
– Papai, de onde eu vim?
E emendou à pergunta:
– Perguntei a vovó e ela disse que foi a cegonha. Já o vovô falou que foi uma sementinha que Deus jogou na mamãe.
– Tudo bobagem – rebateu o pai. – A verdade é uma só. Você veio é daqui, ó. Do meu saco.
Chocado com essa revelação, o filho correu para o quarto.
A mãe, que presenciara a cena, lançou um olhar de ódio ao marido e foi ao encontro do menino. “Não chore, meu bem”, disse ela, enquanto trancava a porta. “Seu pai acredita que você veio de lá. Mas ele está enganado. Muito enganado”. E, sentando-se ao lado do filho: “De onde exatamente você veio, a mamãe ainda não pode contar. Só garanto uma coisa: dali não foi. A verdade é que concebi... quero dizer, concebemos você num momento mágico, especial... Inesquecível”. O menino já não chorava. Ela continuou: “Um dia, quando você for mais crescidinho, hei de lhe contar tudo, fique tranquilo. Mas até lá, prometa uma coisa. Nada comente com o papai. Combinado?”.
O filho fez sim com a cabeça, e sorriu. Um sorriso mágico, especial. Inesquecível.
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