sábado, 13 de dezembro de 2008

DE VOLTA ÀS RAIZES

Três décadas depois, resolveu retornar à sua cidadezinha natal. O desapontamento foi imediato. Nada ali lembrava o lugar de antes.
A começar pela rua de sua antiga casa. O progresso passara por ela. Era agora uma avenida movimentada.
A decepção não parou por aí. No seu endereço, não encontrou mais a residência da família. A casa, bem como a escola em que estudara, foram demolidas e, no local, construíram uma extensa fábrica. Pensou em seus colegas, nos amigos de infância. Chegou mesmo a procurar por eles. Mas em vão. Não encontrou nenhum. Sequer um rosto conhecido. Naquela cidade nada mais parecia familiar.
Cansado da procura, sentou-se num banco da Praça Central, a qual, aliás, também não conservava traços do seu tempo.
Definitivamente, ali não era mais o seu lugar. Melhor, então, partir.
Estava para ir embora, quando, à sua frente, julgou conhecer uma árvore.
Levantou-se e, meio incrédulo, aproximou-se dela.
Reconheceu-a. Era a mesma árvore de sua adolescência. E - surpresa maior - nela encontravam-se duas iniciais talhadas a canivete. Embora imprecisas, teve certeza. Eram suas.
Tocou-as. Sentiu, de repente, uma grande ternura por aquela árvore. Os anos passaram, vencera o progresso, mas ela ainda resistia, retendo no tronco as marcas do passado, mapa de um tempo perdido.
Era como se finalmente encontrasse ali uma amiga. Abraçou-a.
O velho tronco sorveu-lhe as lágrimas.
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Um comentário:

Angela disse...

lindo! A natureza nunca decepciona. Gosto especialmente de seu lirismo, meu amigo!