Ginger
Chamava-se Ginger Death. Tinha cabelos parecidos com taturanas azul-piscina e um pescoço fino e longo de ganso. Acordava todos os dias às quatro horas da madrugada para correr pelo bairro. Três tatuagens sob o pé direito, um prego enferrujado no umbigo e a vontade de ser uma famosa rockstar. Passava quase dez horas do seu dia trancafiada no porão de casa ouvindo bandas de rock, enquanto polia a guitarra que ganhara do ex-ex-ex-ex-ex-ex-ex-namorado. Não queria mais namorado, corações, beijos ou cinema aos sábados. Sua companhia eterna seria Cáfila, uma tartaruga laranja com duas estranhas corcovas sobre o casco — daí o nome para o animal. Tinha uma rotina: após correr pelo bairro com botas que lhe cobriam a perna toda, voltava para casa, fritava oito ovos com gengibre e os comia com um cálice de vinho branco. Esse era seu café. Quando a tarde chegava, almoçava pipoca de microondas com um cálice de vinho tinto. À noite, não ouvia música, preferia cantar e forçar os vizinhos a ouvi-la. E, depois de cada música, mordia os próprios pulsos até sangrarem. Com o sangue, pintava uma espécie de obra realista inacabada. E, então, ia até a janela de seu quarto e esperava a lua aparecer. Quando não aparecia, jogava um colchão sob a janela e a esperava, até pegar no sono. Isso quando os morcegos não a atormentavam por causa do quadro e dos pulsos com sangue.
Numa noite nublada de sexta-feira, cantando absurdamente alto uma de suas composições, Ginger rasgou a garganta num estouro vermelho, espirrando sangue pelo quarto.
Seu quadro realista estava pronto e os morcegos, fartos.
Chamava-se Ginger Death. Tinha cabelos parecidos com taturanas azul-piscina e um pescoço fino e longo de ganso. Acordava todos os dias às quatro horas da madrugada para correr pelo bairro. Três tatuagens sob o pé direito, um prego enferrujado no umbigo e a vontade de ser uma famosa rockstar. Passava quase dez horas do seu dia trancafiada no porão de casa ouvindo bandas de rock, enquanto polia a guitarra que ganhara do ex-ex-ex-ex-ex-ex-ex-namorado. Não queria mais namorado, corações, beijos ou cinema aos sábados. Sua companhia eterna seria Cáfila, uma tartaruga laranja com duas estranhas corcovas sobre o casco — daí o nome para o animal. Tinha uma rotina: após correr pelo bairro com botas que lhe cobriam a perna toda, voltava para casa, fritava oito ovos com gengibre e os comia com um cálice de vinho branco. Esse era seu café. Quando a tarde chegava, almoçava pipoca de microondas com um cálice de vinho tinto. À noite, não ouvia música, preferia cantar e forçar os vizinhos a ouvi-la. E, depois de cada música, mordia os próprios pulsos até sangrarem. Com o sangue, pintava uma espécie de obra realista inacabada. E, então, ia até a janela de seu quarto e esperava a lua aparecer. Quando não aparecia, jogava um colchão sob a janela e a esperava, até pegar no sono. Isso quando os morcegos não a atormentavam por causa do quadro e dos pulsos com sangue.
Numa noite nublada de sexta-feira, cantando absurdamente alto uma de suas composições, Ginger rasgou a garganta num estouro vermelho, espirrando sangue pelo quarto.
Seu quadro realista estava pronto e os morcegos, fartos.
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Do livro de contos e minicontos - Esdrúxulas.
Um comentário:
Obrigado, moço! :)
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