quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O MESTRE

Quando as trevas começaram a cair sobre a Terra, José de Arimatéia acendeu uma tocha de pinheiro e desceu da colina para o vale. Tinha o que fazer em casa. E, ajoelhando-se sobre as pedras do Vale da Desolação, viu um jovem que estava nu e chorava. Seus cabelos eram da cor do mel e o corpo tão branco como uma flor; mas ferira o corpo nos espinhos e sobre os cabelos pusera cinza à guisa de coroa. E José, que possuía grandes virtudes, disse ao jovem que se encontrava nu e chorava: "Não me admira que o teu sentimento seja tão grande, porque, realmente, Ele foi um homem justo". E o jovem respondeu: "Não é por Ele que choro, mas por mim mesmo. Eu também mudei a água em vinho, curei o leproso e restituí a vista do cego. Andei sobre as águas e das profundezas dos sepulcros expulsei os demônios. Alimentei os famintos no deserto onde não havia comida; ergui os mortos dos leitos exíguos e à minha ordem, diante de imensa multidão, uma figueira seca novamente frutificou. Tudo que esse homem realizou eu também realizei e, todavia, não me crucificaram".

Oscar Wilde,

Do livro Poemas em Prosa e Salomé, Ediouro.

Um comentário:

Angela disse...

sem palavras!
Wilde, pra mim, é um contra senso! Por vezes, de uma superficialidade irritante e em outras, uma profundidade imensa!