quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A PRÉ-MORTE DE CAPITU



Certa manhã pedi à escrava um café forte. Ela me trouxe a xícara e a fumaça. Misturei veneno ao líquido escuro e chamei Ezequiel. “Toma este café, meu filho”. A carinha dele lembrou o nosso amigo de sábados e domingos. Os olhos, o nariz, a boca, os gestos, as mãos. Tudo de Escobar. O pequeno olhou para mim, abraçou minhas pernas e disse “papaizinho, eu te amo”. A mãe dele, lívida, chegou à sala: “Meu filho, não beba isto”. Sem fala, frio como as mãos do anjinho, ofereci a Capitu a cicuta.
.
Nilto Maciel é autor de Carnavalha, seu oitavo romance. Além de romances, tem ainda publicados oito volumes de contos, como o Pescoço de Girafa na Poeira, composto também por minicontos.

Um comentário:

Angela disse...

Muito bom! tema, forma... tudo!
Parabéns a este escritor.